Piedade e Compaixão cristãs andam de mãos dadas

Na fé cristã, piedade e compaixão caminham juntas e se complementam. Da devoção a Deus emana à solidariedade e amor ao próximo, a caridade em Cristo Jesus.

Piedade e Compaixão cristãs andam de mãos dadas em Cristo

Piedade Cristã

O termo piedade refere-se, em primeiro lugar, a um sentimento de reverência e devoção a Deus. Na prática, eu (homem) amo a Deus porque Ele é a suma bondade e amor. Existo porque Ele quis desde o princípio e está comigo sempre, por toda a eternidade. Por isso Cristo é chamado de Verbo Eterno do Pai, pois há um princípio, porém o fim é eterno.

De modo humano, é a atitude de um filho para com o Pai; mas de modo sobrenatural, é uma entrega de confiança total, gratidão e louvor a Deus Pai. A piedade, nesse sentido, é a virtude que nos aproxima de Deus, tornando-nos mais sensíveis à sua vontade e misericórdia. Daí brota a conformidade à vontade de Deus. Memorize bem o termo piedade ligado à confiança absoluta e retribuição com adoração a Deus, na prática realizada pela oração.

Mas essa reverência a Deus se dilata na alma e se manifesta na relação com o próximo, porque o próximo – assim como nós – é um dos membros do corpo místico de Cristo. Ter piedade, no sentido cristão, não é ter pena de forma passiva, mas sim uma expressão ativa do amor de Deus no mundo. É a partir da nossa devoção particular e comunhão com Deus que a verdadeira compaixão e misericórdia pelos outros florescem. A piedade, então, é a raiz que sustenta o fruto da compaixão.

Compaixão no Cristão

O processo é semelhante a uma escada de virtudes, em que é necessário primeiro pisar o degrau da piedade, e em seguida alcançar o da compaixão, que significa literalmente “sentir nas entranhas” ou “mover-se de profunda misericórdia com a dor alheia”. Nas Sagradas Escrituras, é a compaixão que move o coração de Deus e de Jesus, que não é somente um sentimento, mas acompanhada de ação prática.

A cura do leproso – Evangelho de Marcos 1:40-42

Aproximou-se dele um lepro­so, suplicando-lhe de joelhos: “Se queres, podes limpar-me”. Jesus compadeceu-se dele, estendeu a mão, tocou-o e lhe disse: “Eu quero, sê curado”. E imediatamente desapareceu dele a lepra e foi purificado.

Repare bem: Cristo – que ama ao Pai de modo perfeito – manifesta esse amor curando o próximo, enfermo e doente, até considerado impuro pelos judeus. Como a caridade não tem limites, porque Deus é infinito bem, Jesus toca o impuro movido de compaixão, e o cura de modo perfeito.

A parábola do bom samaritano – Evangelho de Lucas 10:25-37

Levantou-se um doutor da Lei e, para pô-lo à prova, perguntou: “Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?”. Disse-lhe Jesus: “Que está escrito na Lei? Como é que lês?”. Respondeu ele: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento (Dt 6,5); e a teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Falou-lhe Jesus: “Respondeste bem; faze isto e viverás”. Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Jesus então contou: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei. Qual desses três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?”. Respondeu o doutor: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então, Jesus lhe disse: “Vai, e faze tu o mesmo”.

Nosso Senhor diz de forma prática: não basta ter uma religião – seja circuncidado como o judeu, ou batizado como o católico -, mas é preciso manifestar os frutos da graça em obras! O doutor da Lei sabia o que devia fazer, mas não como obrar, por isso perguntou: quem é o meu próximo? E Cristo o ensina dizendo que um chefe como um sacerdote deveria ter compaixão de qualquer pessoa e ajudá-lo, bem como o levita, mas ambos só possuem o conhecimento teórico do que deve ser feito, mas devido ao seu orgulho de possuidores e juízes perfeitos da Lei, passam adiante, porque aquele homem ferido não é “um dos seus”, não faz parte do seu clã. Falta caridade! Porém um samaritano teve compaixão, ou seja, sentiu a dor alheia como se lhe fosse própria, e ajudou o próximo, até porque o samaritano é excluído pelos judeus. Depois Jesus pergunta ao doutor da Lei, quem é o próximo? E o perito nas Escrituras diz que foi o que teve misericórdia, o samaritano, o impuro para os judeus. Assim não importa o crachá da religião que temos, ou a hierarquia na Instituição, ou o juízo que a sociedade nos atribui, mas que somos todos filhos de um mesmo Senhor.

Conversão de Levi – Evangelho de Mateus 9:9-13

Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava sentado no posto do pagamento das taxas. Disse-lhe: “Se­gue-me”. O homem levantou-se e o seguiu. Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem, numerosos publicanos e pecadores vie­ram e sentaram-se com ele e seus discípulos. Vendo isso, os fariseus disseram aos discípulos: “Por que come vosso mestre com os publi­canos e com os pecadores?”. Jesus, ouvindo isso, respondeu-lhes: “Não são os que estão bem que precisam de médico, mas sim os doentes. Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício (Os 6,6). Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”.

Aqui é a prova clara de que se atende exclusivamente ao que Deus quer! É a perfeita conformidade com a vontade de Deus! Primeiro um pecador é chamado, o cobrador de impostos Levi. Agora alçado a discípulo, Mateus recebe as boas novas e movido pela graça dá frutos de glória e louvor ao Senhor, tanto que O recebe em sua casa, e convida os próximos de seu convívio, todos considerados impuros pelos judeus, para aderirem ao chamado divino. Apesar da má fama, Nosso Senhor se senta com eles porque é movido de misericórdia plena. E completa: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”. De que adiantam os sacrifícios apresentados no templo, se o único necessário é a caridade plena pelo amor ao próximo?

Conclusão das Virtudes de Piedade e Compaixão no Cristão

A fé ultrapassa qualquer limite de redil de uma religião, como Cristo exemplificou na parábola do bom pastor – Evangelho de João 10, 1-21: “Eu sou o bom-pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor.”

Memorize e apreenda com o intelecto: Há ovelhas que não são deste aprisco, ou seja, que não estão ao nosso lado, mas que também são pertença de Deus. Portanto não julgue o que não sabeis, porque eles ouvirão – não a sua voz -, mas a de Cristo, e haverá um só rebanho, hoje disperso, porém o único Pastor já nos é revelado.

Referências

Os textos sagrados foram extraídos da Bíblia Ave Maria. Adquira a Bíblia Ave Maria Capa Eucaristia usada pelo Frei Gilson em suas pregações clicando aqui! e a Bíblia Ave Maria – Letra Grande clicando aqui!

Exemplo de devoção, o livro Diário de Santa Faustina é um dos livros mais importantes sobre a misericórdia de Deus, que é a fonte da compaixão cristã. Santa Faustina Kowalska, uma freira polonesa, registrou suas conversas com Jesus. A obra revela a mensagem de Jesus sobre sua Divina Misericórdia, que não é apenas um sentimento, mas uma ação de perdão, compaixão e graça para toda a humanidade. Adquira o livro Diário de Santa Faustina em capa dura clicando aqui! e o livro de Santa Faustina em versão flexível 2025 clicando aqui!

Já a obra A Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, é o clássico da literatura devocional, manual sobre a vida interior e a busca pela santidade. Guia o leitor a cultivar a piedade através da humildade, do desapego das coisas mundanas e da união com Cristo. A obra enfatiza que a verdadeira piedade é um relacionamento íntimo com Deus, base da qual a caridade e a compaixão fluem para o próximo.

É importante que se adquiram obras de editoras católicas, para evitar a tradução equivocada dos textos. Agradeço a atenção e aguardo seus comentários, para juntos caminharmos na estrada de Jesus!

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